Entenda o Contexto Primeiro
Outro dia conversei com um músico profissional que fazia faculdade de produção musical, e ficaram claros alguns aspectos:
- As grandes gravadoras prestam um serviço para a sociedade desta forma: encontrando talentos, patrocinando a produção e gravação do fonograma, produzindo um encarte bonito, divulgando o produto na TV, rádio, revistas, outdoors e novelas, e depois operando a logística de distribuição física do CD, além de em paralelo investir na própria evolução da tecnologia do CD, tudo isso para você poder ouvir música de alta qualidade técnica, e fácil de encontrar na loja perto da sua casa. Então nada mais justo que as gravadoras serem remuneradas por todo esse trabalho.
- Por isso, em geral a gravadora é dona do fonograma, e não o músico ou compositor. Isso significa que é ela quem decide quando, quanto e como vai publicar as canções (publicar significa prensar CDs e por nas lojas). O músico não pode pegar o fonograma, gravar um CD e sair vendendo, a não ser que ele compre os direitos sobre o fonograma, que são em geral muito caros.
- As gravadoras não estão defendendo os direitos dos artistas, mas seus próprios interesses. De fato, muitos artistas não gostam que as gravadoras digam que estão defendendo os direitos deles.
- Nesse processo todo, os músicos ganham os direitos autorais (que segundo alguns músicos que conheço, é pouco), que recebem de uma instituição independente, que por sua vez vem da gravadora e de outras fontes. Essa regra não vale para estrelas que tem poder (e agentes) para negociar contratos melhores com uma gravadora.
- O músico quer que sua arte seja conhecida e ouvida o máximo possivel.
- Músicos profissionais ganham mais dinheiro em shows e performances ao vivo, e menos em venda de CDs das gravadoras, que levam a sua obra.
- Pessoas só vão prestigiar os músicos num show (e pagar ingresso) se sua obra for boa e conhecida.
- Muitos bons artistas não tem penetração no mercado, dinheiro ou disposição para gravar um CD independente. Esses são os chamados “alternativos”.
- Excelentes músicos e lindos fonogramas podem ser pouco conhecidos ao ponto de ser comercialmente inviável dar-lhes espaço numa concorrida prateleira de loja de discos. Por isso é dificil encontrar gravações antigas ou as chamadas “alternativas” nas lojas: ou as pessoas já mudaram de gosto, ou há pouquíssimos compradores. A situação é pior para as gravações que são ao mesmo tempo antigas e alternativas.
- Eu estimo o custo de 1 CD — incluindo o plástico, encarte, trabalho artístico, pagamento do direito autoral, veiculação etc — em menos de R$5.
- Ouvi dizer que a lei proibe a redistribuição de fonogramas em meio físico (gravar um CD ou fita e sair vendendo ou comprando).
- A Internet não é considerada um meio físico. Por isso, nesse raciocínio, não é proibido usar a Internet como meio de distribuição de música, pelo menos para fonogramas produzidos/gravados/publicados antes da era Internet, o que inclui tudo antes de mais ou menos 1997. Depois disso, fonogramas começaram a ser produzidos com uma licença (os termos legais que definem o que é permitido ou não fazer com o fonograma) revisada que incluia a Internet — junto com CDs piratas, fitas caseiras, etc — como um meio ilícito de distribuir música direta e livremente.
Seja como for, baixar música da Internet leva tempo, vem sem o encarte — que conté muita arte gráfica e informações valiosas — e é controverso se é ilegal ou não. Por outro lado, já foram vistos artistas e suas discografias completas disponíveis ao ponto de parecer irracional não baixar.
Você decide se vai seguir o que a mídia diz defendendo seus interesses — e não a dos artistas —, ou se vai prestigiar um músico e sentir tudo o que seu potencial criativo pode fazer com suas emoções.
fonte: http://avi.alkalay.net/2006/08/baixando-musica-da-internet.html
Um comentário:
Parabéns, pelo texto! é bastante esclarecedor.
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